terça-feira, 17 de julho de 2007

A sociedade acomodada.

As pessoas lutam, insistem e não desistem daquilo que elas realmente querem. Se querem realmente, conseguem; isso todo mundo já sabe. Mas agora tem uma coisa que ninguém nunca parou para pensar: após um tempo, depois de ter conseguido, quantas dão valor? Por algum tempo - ou até muito - dá-se muito valor, realmente. Mas e depois? Aquilo desgasta, aquilo cansa e você já nao quer mais. É como uma criança quando ganha um brinquedo: brinca, brinca, brinca e depois o deixa de lado.
Um emprego. Você sem dinheiro, desempregado. Um emprego é seu maior desejo no momento. Então você corre atrás, entrega currículos pra todas as empresas, fica noites antes de dormir imaginando-se empregado. Ah, a entrevista! Você foi chamado para uma entrevista! Meus parabéns, vejo que está feliz, muito feliz. Você vai todo elegante para a entrevista, sorriso de orelha a orelha. Quanta ansiedade dias após a entrevista... o telefone toca e felicidades: você foi contratado. Primeira semana trabalhando, quanto bom humor! Primeiro mês trabalhando, ainda de bom humor. E no terceiro mês já chega um pouco desconfortável. No quinto mês reclama do chefe como nunca. No sexto já precisa de férias. No nono mês não aguenta mais. E no seu primeiro ano completo de trabalho na empresa sua produtividade cai como nunca e já procura outro lugar para trabalhar.
A tão esperada faculdade de medicina. Você sempre quis fazer medicina, em toda a sua vida. Estuda como louco para o vestibular, gasta dinheiro com cursinho e livros. Sim, você passou! Também, depois de tanto esforço... seus pais estão felizes também. Há pessoas legais na sua classe, os professores e as aulas são legais também. Tudo mil maravilhas. Faltar pra beber cerveja no barzinho da frente não mata ninguém, uma vez só. Uma vez só por semana também não mata ninguém. Ah, as provas! Essas malditas provas... Os trabalhos? Você os odeia. Estágio não quer. E você não dá a mínima pr'aquela faculdade de medicina que você sempre sonhou, e quando vê já repetiu...

Insatisfação. Exigência. Acomodação.

Não precisa limpar a casa porque já tem o tapete na porta que retém a sujeira dos sapatos. Aliás, os sapatos, para quê engraxá-los? Depois de algum tempo já vão estar feios de novo. Comida não precisa mais de tanto trabalho para fazê-la, existe a congelada. Lavar a louça? Põe na máquina. Não precisa fazer nada, nada... ou as máquinas fazem, ou não é necessário. Que fiquem todos em seus respectivos sofás. E as tardes na casa dos avôs (nós!) não vai mais ter cheiro de planta e nem de torta de maçã, vai ter o cheiro da preguiça e do caos.